#47



Parou ali por instantes. Olhou para trás e fixou a última curva onde se tinha magoado. Respirou fundo e cravou os
pés arranhados naquele caminho. Tinha areia, pedras, espinhos. Naquele momento percebeu que estava na vida em sentido contrário.
Sentou-se uns instantes na beira da estrada, colocou a cabeça entre as mãos e chorou até limpar os pés. 
Levantou-se e só então percebeu que na última viagem
que fez pela noite tinha perdido a mala dos sonhos. 
Era a mais leve, talvez por isso. Mas não iria deixar de levar consigo a das memórias, por muito pesada que fosse. Ainda hesitou, pensou dar alguns passos atrás, mas sentiu que não podia recuar. 
Mesmo
em contra-mão
era preciso continuar.

Comentários