#36
Lentamente, 
vou sentindo as marcas 
a afundar no avesso da pele. 
Tu avisaste 
mas eu não soube 
fechar o coração nas mãos. 
Deixei-o cair 
sem dar por isso. 
Dos olhos e dos lábios diretamente para o teu colo. 
(Em cada uma das lágrimas 
e em todas as palavras)
As marcas 
estão mais vazias de mim 
e cheias da saudade de ti,
por te querer tanto 
no tão pouco que sou.
E tu recuas-me 
no tempo que já não tenho 
e dizes que não é ainda 
esse tempo. 
(Nunca usei calendários na medida do sentir)
Nos vazios que o tempo esculpe, 
reconstruo memórias 
e nelas um gafanhoto 
esgravata-me a barriga 
das borboletas, 
abaixo do umbigo.
Ardem-me os arranhões 
que deixa de cada vez 
que me empurra as entranhas 
(e me cola a máscara da fuga 
no rosto)
Não sei se tenho de partir.  
Sei que é inverno 
no inverso do que sinto
e estou despida no teu caminho. 
As ruas do meu corpo 
estão gélidas. 
E o Amor que aquece 
já não está do lado de dentro. 
Ficou nos teus bolsos.
(Ao lado do riso de me sentir inesperadamente feliz)
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