#37
Fui sempre deixando pelo caminho
os pedaços que me enferrujaram a vida.
Livros fechados. Caixas vazias.
Talheres e pratos em que a felicidade deixou se ser servida.
Ficaram espalhados e o cheiro do ferro sujo e gasto
entranhou-se.
Fui sempre encontrando
pelo caminho
pratos bonitos e brancos
que me fizeram crescer
e sentir.
Coisas bonitas. Pessoas inteiras. Estórias imensas. Acostei-os ao ferro enferrujado
que assim me pesa menos na boca
o sabor da mágoa.
No meio do caos vou (re)começando.
Nos passos da nova partida
vejo um fio
que começa logo abaixo
do meu umbigo.
Aí mesmo.
Na outra ponta do fio
apenas uma tampa.
Tem a cor dos teus olhos,
já viste?
Enquanto sigo o caminho
deixo nas tuas mãos
o pedaço de alma
em que escrevo os medos
e os sonhos.
Deixo nas tuas mãos
o corpo destapado
e os pés cansados de caminhar.
(Deixo-me nas tuas mãos)
Ta(m)pa-me os olhos
com o teu azul e leva-me.
Estou de volta a casa:
“ROMA”
Comentários
Enviar um comentário