#44
Começo a perder a noção da distância que percorro neste caminho que me vais traçando.
Não porque não saiba de outros.
Apenas porque não te vejo nesses tantos que tenho disponíveis para percorrer.
Sinto a alma a arrastar-se neste quadro que começa a perder cor de tão queimado
da luz que o faz brilhar.
Pesam-me as mãos e os olhos
do tanto de te beber os contornos e o toque da pele.
Ah! E gargalho-me!
Debruço-me sobre as mãos
que me apertam a barriga
pelo curioso que é repetirmos padrões do passado,
vezes sem fim.
“Pões-te a jeito!”
sussurro-me...já me conheço
tão bem.
“Encantas-te pelo incerto!”
insiste-me a razão...enquanto tento adormecer.
E tento dormir desde que o meu outono chegou.
Rasgo nos lábios,
que salgo todos os dias
nas lágrimas
que me rolam pelo rosto,
os melhores sorrisos
que tenho para te oferecer.
É verdade que às vezes
os escondo.
(Sabes que não gosto de sentir este medo de te perder.)
À noite não me lês os olhos
mas o sorriso também me trai.
E eu não quero que vejas.
Não posso.
O tempo passa e eu deixo que passe no teu ritmo.
Não sei sequer
qual é o retorno.
De cada vez que tento recuar
apenas sinto areia nos pés
e não me lembro
de ter saído do mar.
Mas volto sempre ali,
às ondas que me enrolam, que me desequilíbram no rumo
e me salgam as feridas
que vais deixando
(mesmo sem querer).
Não sei se vou ter-me aqui durante a vida.
Não sei se vais querer-me aqui ou em ti.
Sei que aprendi, no ontem,
que a vida é mais breve
do que o tempo que dura um abraço.
A vida é mais breve
do que a vida que dedicamos a quase nada.
A vida segue sem podermos pedir que espere por nós.
Mas eu espero. Pela vida.
Sentada no meio do pinhal onde voam borboletas e gafanhotos
e me ajudam a serenar
os fantasmas que levo na mala.
Na minha vida
cabe um tanto de ti
que me transborda no tanto
que tenho para ti.
Sabes? Não sabes.
É só um disparate.
Do tamanho da sardanisca
que percorre as mesmas pedras da calçada que eu,
enquanto sacudimos a areia do último mergulho no mar.
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