#45


Nos dias 
em que vou sozinha,  
limpo as gotas 
que insistem em nascer-me 
nos olhos.
Continuo o caminho. 
Equilibro-me no que sinto 
e a certeza de estar 
de volta a casa 
faz-me os passos mais firmes. 
As nossas partilhas, 
tão coloridas, 
transformam o caminho de pedra num enorme ladrilhado 
com todas as cores que trago 
no peito e nas mãos.
 
São tuas, 
as cores que pintam o meu chão.
São as cores que te definem 
e que me definem em ti. 
São as cores 
das horas 
dos dias.

Nos azuis 
perco-me nos teus olhos
enquanto contas por onde andaste.

Nos laranja 
sei-te feliz por coisas tão simples...

Nos encarnados
dizes-me que trago 
disparates na boca 
(mas não queres que deixe de dizê-los porque gostas). 

Nos amarelos 
somos gargalhadas e 
dedos entrelaçados.

Nos rosa 
partilhamos histórias e segredos.

Os pretos 
são a tua ausência,
é quando me falta o chão.

Depois...
nasce o verde 
ali mesmo,
a ladear tudo isto 
e a dizer que 
todos os sonhos 
podem fazer sentido assim.

E nunca te falo disso. 
Que sonho um dia 
voltar a pintar, 
contigo, 
maior tela 
- a vida 
que ainda nos falta viver -

Comentários